História
A Agência Funerária Secular Casa Moreira, será provavelmente uma das mais antigas casas funerárias em atividade em Portugal e de atividade ininterruptamente ligada à Família Moreira.
A sua sede, sita na freguesia de Moreira da Maia, permanece no mesmo local desde a sua fundação e está estreitamente relacionada com a fundação da agora designada “Associação de Banda de Música de Moreira da Maia”, no ano de 1847.
Há registos de serviços de elevada qualidade e competência que remontam a uma época anterior ao ano de 1847, pelo então génio empreendedor de Domingos José Moreira (o “Clara”), fundador da então denominada “Casa de Armação Moreira”, também fundador da Banda de Música de Moreira da Maia.
“É natural d’esta aldeia Domingos José Moreira, lavrador, Muzico, Armador, cerieiro, e no seu principio carpinteiro nasceu elle n’uma casa do mesmo logar que fica ao Nascente d’onde hoje reside, junto d’um tanque de lavar que é do caseiro que foi por muitos anos da quinta do Calheiros d’aquella freguezia, onde este tem também a sua casa com janellas de sacada, e o tanque do outro lado do caminho na frente da casa, ficando a referida casa onde elle nasceu em 1827 da parte do Norte e em frente do tanque metendo-se o caminho publico de permeio..”. (pág. 62)
“Há também boa música, que forma uma capela, dirigida pelo hábil mestre Domingos José Moreira, natural de Moreira, que também tem uma boa armação de Igreja”. (pág. 32)
“Os armadores mais notaveis são o do logar do Carvalhido freguezia de Moreira, Domingos José Moreira (o Clara) é armador e mestre da muzica da Capella há muitos annos, muito conhecido pelo labuto e habilidade. Tem boa muzica e muito rica armação tanto de gala como de lucto, e tem grangiado boa fortuna que seu genio emprehendedor muito tem desbaratado.” (pág. 54)
In “Moreira da Maia no Século XIX – Segundo o Manuscrito do Padre Joaquim Antunes de Azevedo” – José Augusto Maia Marques.
Nascido a 13 de julho de 1827, na Freguesia de Moreira da Maia, é Domingos José Moreira, o fundador das duas Instituições que hoje se designam de “Agência Funerária Secular Casa Moreira Lda” e “Associação Banda de Música de Moreira da Maia”.
Empreendedor e carpinteiro de profissão, deu provas de habilidade, inteligência, iniciativa e ambição. Fundou a então casa de armação “Casa Moreira – Armador” que tinha como atividade principal a ornamentação das igrejas (“armador de igrejas”), tanto para cerimónias religiosas festivas como lutuosas.
A atividade do “Armador” enquadrava-se numa época onde as entidades promotoras das celebrações religiosas não dispunham de adereços em quantidade e qualidade suficientes, capazes de garantir um engalanamento condigno, pelo que o armador dispensava temporariamente para a ocasião os elementos em falta como tecidos (sanefas de veludo, alcatifas, espaldares, rendas, galões) ou peças de vestuário destinadas aos participantes dos cortejos ou procissões (vestidos e
“anjos”).
Além da fundação da casa de armação e com o objetivo de conferir maior dignidade tanto às cerimónias festivas como lutuosas, Domingos José Moreira fundou também a “Banda de Música de Moreira”, integrando-a nas mesmas cerimónias.
As cerimónias fúnebres revestiam-se então de grande solenidade pois, pela sua habilidade técnica como marceneiro, concebeu uma monumental essa funerária em talha dourada – considerada a peça mais notável que alguma vez foi criada para este efeito. Para se ter uma ideia da sua grandeza sabe-se serem necessários oito carros de bois para transportar as caixas que constituíam os diferentes componentes da mesma.
Por ser conhecido por “Domingos da Clara”, o epíteto “Clara” iria permanecer por gerações futuras, a todos quantos assumiriam a gerência da Casa de Armação e a Regência da Banda de Música (“Mestre da música”).
No dia 26 de abril de 1896 (um Domingo), numa missa solene em Mosteiró – Vila do Conde, faleceu repentinamente, aos 68 anos de idade, enquanto dirigia parte da banda e coro que ele próprio fundou.
A continuidade da atividade da casa foi assegurada por José Domingues Moreira, seu filho.
Foi também considerado um dos grandes impulsionadores, com ordem e prestígio em ambas as Instituições (Casa de Armação e Banda de Música), tendo falecido a 22 de setembro de 1936, com 75 anos de idade.
Era casado com Albina da Silva Aroso, natural de Freixieiro, Perafita, Matosinhos, mulher muito admirada e muito apreciada pela sua devoção ao próximo e que presidia a todos os trabalhos desde a armação, às velas de cera e cobrir pequenos caixões. Dos dez filhos, destacam-se: José, padre e professor do Seminário Maior do Porto e António José, o que viria a ser conhecido como o “Mestre Clara”.
É no início do século XX, em meados de 1914, que o filho António José Moreira, assume a liderança, tanto da Casa de Armação, como da Banda de Música de Moreira da Maia.
Fruto da sua competência e personalidade cativante, conferiu grande valor e prestígio à Casa de Armação e à Banda de Moreira, alcançando estas Instituições muita notoriedade, muitos quilómetros em redor.
A Casa de Armação foi muito progressiva no seu tempo, tal como a Banda de Música de Moreira. Um sinal deste progresso durante a sua gerência foi a construção de um armazém para a Casa de Armação – o mesmo onde ainda hoje se mantém em atividade – assim como dotaria a Banda de Música de novas instalações, na mesma rua e apenas poucos metros de distância da Casa de Armação. Estas instalações da Banda tornar-se-iam sede e local de ensaio da Banda até ao ano de 2020. Terá sido também, durante a sua regência, que a Banda de Música de Moreira da Maia
viria também a designar-se como “Banda dos Bombeiros Voluntários de Moreira da Maia”.
Será quem de forma mais indelével se distinguiu, pois António José Moreira não é nem mais nem menos que o famoso “Mestre Clara”.
A sua morte precoce, com 65 anos de idade, foi muito lamentada pela sua família e por muitos pelas suas relações de admiração e amizade.
Na sua cerimónia fúnebre, pela última vez, foi utilizado a monumental essa funerária em talha dourada, concebida pelo seu avô e fundador.
Lembrado como um indivíduo de fisionomia alta e forte, provido de uma simpatia e personalidade únicas, foi reconhecido pela Autarquia da Maia, que perpetuou o seu nome e homenageou o homem e a sua obra filantrópica, atribuindo o seu nome à rua onde nasceu – também sede da Casa Moreira – e também das urbanizações vizinhas (Rua Mestre Clara e Urbanização Mestre Clara).
Ainda hoje a Casa Moreira é também conhecida pela “Casa do Mestre Clara”.
Com o falecimento do “Mestre Clara”, sem sucessores diretos, foi no ano de 1957 que se fechou um dos capítulos mais marcantes e mais prestigiantes da história da Casa Moreira.
A continuidade foi assegurada por Tercília Silva, esposa do “Mestre Clara”, contando ainda com o auxílio das irmãs do último, Almerinda Moreira e Conceição Moreira.
Deu-se assim início a uma nova era, onde os destinos da Casa Moreira deixaram de ser conduzidos por um descendente direto do seu fundador, sendo também assinalável que se tratou de um momento da história em que a Casa foi gerida com o cunho feminino.
A regência da Banda de Música estaria já a cargo do Professor Manuel Moreira da Silva.
Apoiada pelo prestígio alcançado, a Casa Moreira manteve as suas operações, tendo sido gerida com competência durante 18 anos, até ao falecimento de Tercília Silva, com 79 anos de idade, a 14 de março de 1975.
Também neste período, teve forte ligação à Casa Moreira o Coronel Carlos Moreira, irmão do “Mestre Clara” e Presidente da Câmara Municipal da Maia, tendo contado com muitas homenagens e manifestações de simpatia e condecorações, tendo falecido a 14 de fevereiro de 1979, com 82 anos. Tem o seu nome perpetuado numa rua em Moreira e no mercado do Castêlo da Maia (Santa Maria de Avioso). Também a sua esposa Maria Eulália Balacó, Reitora do Liceu Carolina Michaëlis, tem o seu nome perpetuado numa rua transversal à Rua Mestre Clara.
Em 1969, foram realizadas cerimónias de homenagem póstuma a António José Moreira (o “Mestre Clara”), de descerramento da placa toponímica “Rua Mestre Clara”, atribuindo assim o seu epíteto à rua da Casa Moreira e posteriormente à “Urbanização Mestre Clara”.
Também ocorreu no mesmo dia a Cerimónia de Inauguração da Casa-Museu Carlos José Moreira, “Casa Museu da Terra da Maia” e de homenagem a Carlos José Moreira, Presidente cessante da Câmara Municipal da Maia.
Estas cerimónias foram captadas pela RTP (Rádio Televisão Portuguesa), sendo possível consultar as mesmas na seguinte hiperligação da RTP ARQUIVOS:
Nas imagens é possível identificar Tercília Silva (a então gerente da Casa Moreira) e Coronel Carlos José Moreira.
Após o falecimento de Tercília Silva, em 1975, a direção da Casa Moreira volta a ser assumida por um descendente direto do seu fundador, neste caso, um dos seus netos Domingos José Moreira, irmão mais novo dos referidos “Mestre Clara” e Coronel Carlos Moreira.
Apesar de ter nascido na Casa Moreira, em Moreira da Maia, a 15 de junho de 1902, cedo residiu e constituiu família no lugar de Cabanelas, freguesia de Lavra – Concelho de Matosinhos.
Foi nesta localidade que foi reconhecido pelo seu mérito como Juiz da Paz e de Secretário (1937 a 1942) e Presidente (1942 a 1962) na Junta de Freguesia de Lavra.
Será nesta altura que a Funerária Casa Moreira terá passado a ter um maior reconhecimento ao redor da freguesia de Lavra – Concelho de Matosinhos e, com o aparecimento e crescimento de novas casas funerárias neste e Concelhos vizinhos, assistiu-se a um declínio da atividade da empresa.
Mantendo-se fiel à freguesia de Lavra, que o acolheu na idade adulta e onde constituiu família, não regressou mais à Casa Moreira de Moreira da Maia. Por esse motivo, logo desde o início da sua gestão em 1975, teve o apoio do seu filho Domingos José Dias Moreira, que terminado o serviço militar obrigatório, conclui um percurso inverso ao do seu pai: nasce em Lavra – Matosinhos, mas passa a residir e a constituir família na Casa Moreira de Moreira da Maia, ficando responsável pelas operações da Casa de Armação e pela reconstituição da antiga Casa.
Terá sido o infeliz e inesperado falecimento da sua esposa Carolina Dias, a 8 de novembro de 1982, a concretizar a passagem definitiva dos destinos da Casa Moreira para as mãos do seu sucessor e filho.
Domingos José Moreira faleceu a 5 de outubro de 1998, tendo também a autarquia de Matosinhos perpetuado a sua memória, atribuindo o seu nome a uma rua na freguesia de Lavra – Matosinhos.
É com Domingos José Dias Moreira que a Casa Moreira manterá uma outra tradição – já centenária – da continuidade dos descendentes da família Moreira.
Filho do anterior gerente Domingos José Moreira, assume em 1982 a gestão definitiva da Casa de Armação Moreira, após ter assumido também, em 1977, a regência da Banda de Música de Moreira da Maia – motivo pelo qual também recebeu o epíteto de “Mestre Clara” (“Mestre” da Música, descendente dos “Claras”).
Será porventura a sua obra, tal como foi a do seu bisavô “Clara” (fundador) e também do seu tio “Mestre Clara”, a mais marcante na história da Casa Moreira.
Apesar de ter nascido em Lavra – Matosinhos, cedo residiu e constituiu família na Casa Moreira em Moreira da Maia. E, à semelhança dos seus antecessores, não só assumiu a gestão de ambas as Instituições como as faz renascer, com grande Prestígio, quando estariam numa situação fragilizada da sua história, invertendo o rumo então descendente.
Relativamente à Casa de Armação, foi o responsável pela sua significativa expansão, dotando a mesma de novas instalações nas freguesias de Gueifães e de Nogueira – Concelho da Maia, passando a estar ativamente presente em 4 localidades (Moreira, Gueifães, Nogueira e Lavra – Matosinhos). É também no decorrer da sua gestão, que a Casa de Armação assume a sua atual designação de “Agência Funerária Secular Casa Moreira Lda”. Também fruto dos seus valores humanos, muito enaltecidos, as operações da empresa são ampliadas e a sua atividade cresce gradualmente, atingindo níveis jamais ocorridos em toda a sua história.
É também durante a sua regência, em 1982, que se dá a passagem da Banda de Música a Associação, passando tornar-se uma entidade associativa de música com a designação de “Associação da Banda de Música de Moreira da Maia”. Este passo permitiu que a Banda pudesse dar um salto qualitativo: sendo a primeira Banda de Música a nível nacional a gravar um CD em 1993; consolidando e dinamizando uma escola formadora de músicos; e lançando a primeira pedra para que a Banda possuísse novas e mais dignas instalações próprias.
Contudo, não foram somente as grandes obras deste novo empreendedor que traçaram um paralelismo com os seus antecessores. Infelizmente, tal como o seu tio “Mestre Clara”, faleceu também precoce e precisamente aos 65 anos de idade.
Com o falecimento de Domingos José Dias Moreira, é o seu filho João Filipe Machado Moreira – mais uma vez, descendente direto da família Moreira e trineto do Fundador – que assume, desde 2017, a gerência atual da Agência Funerária Secular Casa Moreira Lda.
Com a cogerência do seu irmão gémeo Luís José Machado Moreira, a Agência Funerária Secular Casa Moreira Lda. passa a aliar a inovação à sua distinta e longa tradição de mais de 175 anos, acompanhado assim as exigências e desafios atuais.
Sendo a profissão, de ambos os irmãos, a de engenharia eletrotécnica, contribuíram diretamente para a conceção e desenvolvimento de uma plataforma informática de tal forma abrangente, que integra todos os processos operacionais da Agência Funerária Secular Casa Moreira.
Com esta plataforma, foi assim possível escalar as suas operações, permitindo o contínuo crescimento não só da sua atividade, mas também do número de colaboradores, passando esta empresa, neste aspeto, a ser uma das maiores a nível nacional.
São também de destacar a criação de uma nova imagem corporativa, a reconstrução e ampliação da sede e armazéns da empresa, a aquisição de viaturas especializadas e a implementação de novas tecnologias para acompanhar as exigências atuais. Um exemplo, motivado pela Pandemia de COVID-19, é que passou a ser prestado um serviço único, de transmissão em direto das cerimónias fúnebres aos familiares enlutados que se encontrassem confinados.
Acompanhado também a evolução da sociedade, foi dada resposta a uma crescente procura do designado “contrato de funeral em vida”, onde qualquer pessoa poderá definir que as suas próprias cerimónias fúnebres sejam realizadas de acordo com a sua vontade e critério. Um plano que permite a liberdade de escolha e a possibilidade de tomar as decisões de acordo com os seus desejos, garantindo que familiares ou amigos não terão preocupações num momento tão sensível, protegendo-os não só dos encargos como de todos os processos burocráticos associados. O contrato de funeral em vida trata-se assim da celebração de um contrato escrito que dá a garantia da prestação do tipo e qualidade dos serviços escolhidos.
Apesar da crescente inovação, mantêm-se os valores do seu pai, Domingos José Dias Moreira e de toda a família na história da Casa Moreira:
- Respeito: o profundo respeito e delicadeza, em todos os instantes, pelo momento doloroso que a família enlutada atravessa, transmitindo também a serenidade que a circunstância exige.
- Empatia: a capacidade de compreender os sentimentos e emoções, próprios do momento de luto, mostrando por isso a flexibilidade para que se cumpram vontades também específicas, auxiliando a família em todo o processo.
- Dignidade: procurando conferir a maior dignidade possível em todas as cerimónias fúnebres, com sobriedade e gentileza, respeitando a liberdade religiosa de cada um.